Henrique Carneiro é um jovem fotógrafo paulistano que descobriu há pouco sua paixão pela mídia fotográfica. Formado em jornalismo, foi apenas depois da universidade que cursou dois anos de fotografia na Escola Panamericana de Arte e Design de SP. Seu trabalho, muito sensível, transita facilmente do pessoal para o universal. A partir de suas questões muito subjetivas, Henrique nos transporta para nossos próprios questionamentos e relações com o mundo.

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Henrique esteve presente na projeção Iandé durante o Paris Photo 2018, e autografou seu primeiro fotolivro, Luciara, na maior feira de fotografia. Esse projeto tem o nome de sua mãe o que indica seu forte teor pessoal. Henrique explora o tema da morte de sua mãe quando ele havia apenas 9 anos. Mais do que isso, Henrique dilacera visualmente a notícia tardia do suicídio de sua mãe (ele descobre apenas aos 18 anos) . O livro é feito a partir de imagens de VHS de arquivo pessoal de seu pai e de anotações e documentos sobre a morte.

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O fotolivro foi pensado durante dois anos, com apoio de vários editores. Finalista de melhor livro nos festivais Zum e Cofluir – no Brasil – e nos festivais Felifa e Fola, na Argentina, seu trabalho é original, pessoal, e ao mesmo tempo em diálogo direto com o leitor. Como o filho, vamos, a partir de nossa memória pessoal, descobrindo a mãe, a vida e a morte. O trabalho é sobre ele e sobre nós.

Segue uma pequena entrevista com o fotógrafo sobre seu trabalho.

Luciara é seu primeiro livro, decorrente de uma intensa história pessoal. Conte um pouco o processo de criação que resultou precisamente nesse formato de livro?
Quando eu estava no segundo ano do curso de fotografia da Panamericana, um dos meus professores, Felipe Russo, nos apresentou alguns fotolivros. Até então eu desconhecia esse universo e seu potencial e, quando me foi apresentado, tive certeza que era com esse meio que gostaria de trabalhar. Portanto, Luciara (e possivelmente todos meus futuros projetos) nasceu com o intuito de se tornar um fotolivro e toda sua construção foi feita com isso em mente.
O meu objetivo foi criar uma narrativa que permeasse todo o processo da perda da minha mãe e da descoberta do suicídio para que o leitor enfrentasse esse mesmo processo e criasse uma empatia com a personagem e a história.
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Qual foi a maior dificuldade encontrada ao fazer este fotolivro?
Creio que a maior dificuldade  foi de aceitar e tomar decisões arriscadas quanto ao fotolivro como produto, como, por exemplo, decidir que sua leitura seria na horizontal e que ele teria o formato de uma VHS. Foram decisões arriscadas – especialmente para meu primeiro fotolivro – mas que a todo momento eram pedidas pelo próprio projeto em si. Era necessário para que a narrativa, as imagens e o acabamento do fotolivro fizessem sentido.
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Ao final do processo, livro pronto, mudou alguma coisa em você? Foi um processo terapêutico? 
Com certeza. O que sou mais grato pela produção desse projeto e do fotolivro foi de ter me colocado em confronto com o suicídio da minha mãe e ter compreendido uma série de coisas que vinham me atormentando de forma inconsciente. Senti como se tivesse aceito uma parte de mim que sempre esteve em conflito.
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As imagens do livro vêm de fitas VHS da sua família. Você teve um trabalho ao mesmo tempo de resgate de antigas imagens e de uma memória familiar. Como foi trabalhar com o ressignificado dessas imagens para o leitor do livro e para a sua própria memória?
Acredito que desde o início do projeto meu objetivo foi o de redescobrir quem foi minha mãe como pessoa – o que me aproxima muito do leitor final. Meu objetivo, ao procurar essas imagens, foi o de observar uma mulher e tentar entender por meio de suas feições e ações, indícios de que ela poderia vir a cometer suicídio. O fato dessa mulher ser minha mãe configura um grau maior de intimidade e faz com que a relação criada entre fotógrafo e fotografado se torne tão intensa. Mas toda a pesquisa foi feita com um olhar diferente, de investigação, de busca por uma conexão, de intimidade. Foi o que me fez entender sua história e me aproximar de minha mãe – que, até então, estava perdida em minhas poucas lembranças.
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Seu livro a partir de “uma caixa de memória” pessoal sua perpassa a figura materna: sua ausência, seu significado e representação. Como você pensou essa narrativa do micro para o macro?
O trabalho teve início com a realização de que eu não tinha lembranças ou referências de uma figura materna e que, minha mãe, após sua morte, havia se tornado apenas seus objetos, fotografias, documentos e relatos. Tendo isso em vista, resolvi fazer o processo contrário de fotografar todo esse material para, assim, redescobrir quem foi ela em minha vida. Dessa maneira, acredito que a narrativa de micro para macro se tornou um desejo meu desde o início do projeto. Em seguida, todo o resto foi pensado durante a edição das imagens para justamente reforçar os conceitos que eu desejava perpassar no fotolivro.
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Você também coordena a Havaiana Papers, plataforma de suporte e difusão de fotolivros brasileiros. Como vc vê o enorme crescimento atual de fotolivros (no Brasil e no mundo)?
O Havaiana Papers foi um projeto criado por Walter Costa – editor do meu fotolivro – para a divulgação de fotolivros brasileiros pelo mundo em que eu e alguns outros colegas o ajudamos a coordenar. Eu acredito que os fotolivros, por trabalharem com a leitura das imagens, possuem uma tendência de se tornarem mais conhecidos e possuir um público cada vez maior, especialmente por que, como sociedade, as pessoas estão aprendendo cada vez mais a ler e compreender imagens. No Brasil, percebemos um aumento a todo ano de artistas interessados em produzir fotolivros e – apesar das limitações com custo alto e poucas gráficas especializadas no assunto – vemos muitos trabalhos incríveis saindo que não perdem em nada para produções americanas e européias. Nossa ideia com o Havaiana Papers é de levar esses trabalhos para esses lugares e mostrar o alto nível da produção de fotolivros no Brasil. 
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Quais seus futuros projetos fotográficos? 
No momento estou trabalhando em um projeto onde quero falar sobre o tempo e espaço e como eu percebo esses dois elementos no meu dia a dia, tanto no aspecto real quanto no sensorial. Minha ideia é que ele também se torne um livro.