“TRANSA – Baladas do último sol” é o nome da mostra de Ângela Berlinde que pode ser vista na galeria Espacio/Jhannia Castro até o dia 22 de dezembro, em Portugal. Na cidade do Porto.
Nestes tempos de pequenas viagens, Transa nos transporta para a imensidão da Floresta Amazônica, território escolhido pela artista Angela Berlinde que nos convida a uma dança estética e existencial através do hibridismo da sua fotografia. Transa surpreende-nos com mitos e contos indígenas, numa personificação da graça de carácter criativo e fecundo. Em sua travessia e em seu encontro com as comunidades originárias atiradas para as bordas do mundo, Ângela nos revela uma certa dualidade. Mas, acima de tudo, permite refletir sobre o conceito de Homem que vive descolado da Terra, que suprime a diversidade, que nega a pluralidade das formas de vida. Ela nos fala de uma Terra que, neste tempo suspenso, parece ecoar um grito surdo reunindo todas as forças civilizadoras – as repressivas e as subalternas, as da história da maioria e das minorias: a mulher, a o negro, o nativo, o colonizado.
Sabemos que o artista híbrido contemporâneo cria diálogos com diferentes formas de arte e conhecimento humano e científico. Este lugar da produção artística contemporânea pretende uma confluência entre a estética e as técnicas utilizadas, de forma a diluir os aspectos que enquadram e definem as linguagens artísticas. “Transa” usa essa confluência de linguagens visuais e conhecimento. Esta exposição é o resultado de uma imersão nas possibilidades que surgem das ligações, trocas e transformações …
E Ângela tem uma imensa capacidade de articulação. Ela afirma sua contemporaneidade por meio das conexões que cria, inverte e transforma. Entre o negativo e o positivo, nos faz pensar na nostalgia dos calotipos de Henri Le Secq, mas o negativo e o positivo aqui estão carregados de significado. Assim, Ângela traz para o campo da arte o gesto político de propagar alegorias que pairam no limbo, não só entre o documental e a ficcional, mas entre tempos, entre histórias e geografias, entre o passado e o futuro. , entre Portugal e Brasil. A sua obra se desenraiza para se enraizar entre dois mundos que transbordam com as várias possibilidades que o seu vasto repertório oferece. Técnica e pensamento se misturam em sua fotografia para explorar novos caminhos, reais e imaginários, dissolvendo fronteiras.
O lançamento do livro fotográfico Transa- Baladas do Último Sol deve acontecer em breve no Brasil, durante o FotoRio.
Ângela Berlinde interessa-se pelo lugar do artista nestes tempos obscuros e nos convida a uma ressignificação do tempo presente, numa tentativa poética de captar o curso irreversível do tempo e de todos os acontecimentos brutais que permanecem a marcar o curso da história. Diz procurar “agitar as águas de uma Terra em Transe e ousar um imaginário transgressor sobre o lugar do artista, que vive permanentemente no fio do abismo”
Angela Berlinde vive entre Portugal e Brasil. Artista e curadora independente em Fotografia, com doutorado em Comunicação Visual sobre fotopintura e autorrepresentação das nações indígenas , ela trabalha na esfera da transversalidade das narrativas, também traduzidas em livros de fotografia, território em que a fotografia expressa o seu potencial criativo. Ao longo do seu percurso, quer no campo da criação, quer no desenho curatorial e académico, sempre procurou examinar o modo pela qual a Fotografia continua a envolver-se em narrativas culturais contemporâneas para a construção de novas ordens e estruturas artísticas.